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Quando a insônia bate, a única saída é fazer planilhas. Bom, isso dos ingressos era algo que já estava me incomodando. Entre os argumentos mais fantasiosos, que as pessoas insistem em usar sem ser com ironia, como “precisamos pagar o salário dos jogadores” até o grito do atleticano do interior, que precisa arcar com sócio-torcedor, passagem de ida e volta, hospedagem e alimentação, cada torcedor sente o aumento contínuo dos preços de uma forma, mas os números não mentem.

Neste artigo, vou trazer para vocês a matemática pura e simples: não tem como discordar dos números, são operações básicas. Sim, os preços subiram, isso é um fato inegável. Porque subiu? Deveria ter subido? Poderia ser mais barato? Tinha que ser mais caro? Essas e outras perguntas relacionadas eu não pretendo responder, porque não sou especialista da área e não tenho acesso às finanças do Atlético para saber com exatidão o que pode ser feito ou deixar de fazer.

Serão analisados apenas os jogos do Brasileirão, visto que a Libertadores é uma competição continental completamente diferente e excluí o único jogo da Copa do Brasil contra o Fortaleza por acreditar que a precificação de um mata-mata deva ser diferente de pontos corridos. Bom, vamos lá?

Laranja/AmareloVermelhoRoxo SupRoxo Inf
InternacionalR$ 140,00R$ 180,00R$ 250,00R$ 300,00
CearáR$ 140,00R$ 180,00R$ 180,00R$ 260,00
SantosR$ 60,00R$ 100,00R$ 100,00R$ 150,00
CuiabáR$ 60,00R$ 100,00R$ 100,00R$ 150,00
GrêmioR$ 60,00R$ 100,00R$ 100,00R$ 150,00
AméricaR$ 80,00R$ 120,00R$ 130,00R$ 180,00
CorinthiansR$ 112,00R$ 168,00R$ 182,00R$ 252,00
JuventudeR$ 170,00R$ 250,00R$ 270,00R$ 370,00
FluminenseR$ 285,00R$ 455,00R$ 570,00R$ 769,00

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Aqui estão todos os jogos em casa do Atlético pelo Brasileirão com público na temporada 2021. Esses são os preços dos ingressos de cada setor, os que estão unidos têm o mesmo preço. Foram considerados os preços integrais, mas como a análise será feita em porcentagem, não faria diferença em relação aos preços pagos pelos sócio-torcedores que tem até 65% de desconto. 

Para os jogos contra Santos, Cuiabá e Grêmio houve uma campanha para atrair o público para o estádio, por isso foram praticados os preços mais baixos. Quando foi percebido que a possibilidade do título era real e que o atleticano estava empolgado com o momento, aliado com o plano de sócio-torcedor Galo na Veia que só crescia, a demanda começou a ficar maior do que a oferta, causando, a partir daí, aumento frequente no preço dos ingressos.

De Grêmio para América, foi registrado um aumento de até 33% em 4 dias. De América para Corinthians, 40% de aumento em todos os setores, uma diferença de 3 dias. Entre Corinthians e Juventude, separados por 10 dias, um aumento de até 51,7%. E por fim, mas não por último, entre Juventude e Fluminense tivemos um aumento de até 111%, com 8 dias de distância.

Ao todo, se compararmos o menor preço praticado com o maior preço praticado até aqui, quem frequenta os setores laranja e amarelo pagou 475% de aumento, o setor vermelho sentiu 455% a mais, sendo a menor das taxas (menor para quem, não é mesmo), o roxo inferior teve o maior aumento, de 570% e o roxo superior ficou 513% acima, mas 13 é Galo, né CAMbada?

SETOR LARANJA SUPERIOR/INFERIOR -> 475% DE AUMENTO

SETOR AMARELO SUPERIOR/INFERIOR -> 475% DE AUMENTO

SETOR VERMELHO SUPERIOR/INFERIOR -> 455% DE AUMENTO

SETOR ROXO SUPERIOR -> 513% DE AUMENTO

SETOR ROXO INFERIOR -> 570% DE AUMENTO

Não sou economista, mas arrisco dizer que nenhuma moeda valorizou 570% em 45 dias. 

Agora, vamos fazer a famigerada comparação com um salário mínimo. Para assistir Atlético x Fluminense no Mineirão, no próximo domingo, às 16h, um torcedor terá que desembolsar até absurdos 70% de um salário mínimo. Eu não sei a realidade que você leitor vive, mas isso é muita coisa para muita gente.

E se a gente brincasse de projeção? Pegando o aumento de 570% em 45 dias (cada vez que eu escrevo, acho mais absurdo), fazendo uma continha muito das básicas, temos, arredondando, 13% de aumento por dia (13 é Galo, mais uma vez). Entre o jogo contra Fluminense e Bragantino, temos 7 dias, ou seja, cerca de 91% de aumento. 

Parece um absurdo? Acredite, não é. Dois aumentos já foram maiores que esse e um chegou bem próximo. Então, pegando o ingresso de R$285, teremos, resumidamente, R$544 reais no ingresso que corresponde ao setor laranja e amarelo, R$869 para o vermelho, R$1089 para o roxo superior e incríveis R$1469 para o roxo superior. 

Lembrando que estou fazendo a conta mais básica de todas. Forneci os dados logo no começo do artigo, tem várias formas de fazer essa estimativa, com médias ponderadas em setores, em dias, em aumentos, considerando a campanha promocional, considerando os jogos da Libertadores e da Copa do Brasil, enfim, inúmeras possibilidades, mas só uma conclusão possível: o futebol elitizado não permite mais que pessoas de baixa renda frequentem o estádio, e isso é muito triste. 

Tem quase uma década que Alexandre Kalil disse que futebol era coisa de gente rica e hoje nós já podemos perceber isso. Quem foi nos jogos de Santos, Cuiabá e Grêmio ouviu e cantou com a torcida “a favela voltou”. Esse canto será cada vez mais raro no futebol brasileiro.

Ah, por último, para acabar de vez com o argumento de que “com Di Santo era R$5, agora temos o Hulk, tem que ser caro mesmo”, a folha salarial do Atlético gira em torno de R$12 milhões por mês. Suponhamos que existam 4 jogos por mês em casa. Cada jogo precisara faturar R$3 milhões. Considerando a ocupação média do Galo em 2019, temos 56% de presentes. Acredito que vamos jogar no Mineirão, então, 56% da ocupação máxima de, aproximadamente, 60 mil pessoas, já que temos que considerar os visitantes que deverão estar presentes em 2022, são, arredondando pra cima, 34 mil pessoas. Para uma renda de R$3 milhões, precisaríamos de um ticket médio de R$90 por jogo. Lembrando que temos que considerar as despesas de aluguel e os tickets comercializados pela Minas Arena, fazendo essa conta chegar a um total de uns R$4 milhões, o que aumentaria o ticket para R$118 reais. 

Mais uma vez, são contas simples de médias simples, existem maneiras mais completas e complexas de fazer esses cálculos, mas o resultado é sempre o mesmo: bilheteria não paga folha salarial e o ingresso está muito caro graças à elitização do futebol.

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